O Caddie dos Caddies

Ao pensar no Birula, na vida sofrida que lhe tocou viver e no espírito que ele sempre teve me veio Mateus 5:3-12 naquele começo de versículo que diz "Bem-aventurados os mansos".Conheço o Birula desde a juventude no campo de golfe do Clube Campestre de Livramento. Já naquela época tinha o mesmo temperamento generoso e golfístico que o tornou tão querido por todos.Como caddie, servia com a naturalidade de quem paleteia com sinceridade, se importando com o erro e com o acerto da tacada. Na derrota e na vitória ele deixava ao seu golfista a sensação nem sempre frequente de estar acompanhado através do campo.Durante anos fez o circuito dos Abertos e organizava a sua vida de acordo com o calendário da FRGG. Não exagero em dizer que foi o caddie mais conhecido do Estado.Ano passado, em outubro, comemoramos seu aniversário de 60 anos com um torneio de golfe onde compareceram mais de 70 jogadores campestrinos entre sócios, caddies ativos, caddies veteranos e alunos da Escolinha Boa-bola. O Prefeito Municipal enviou representante, Presidentes do Conselho e do Clube estiveram presentes e toda a competição foi acompanhada pelo Sr. Darcio Ricca, supervisor da Confederação Brasileira de Golfe que então nos visitava.Não erro ao dizer que Darcio nunca em sua experiência no esporte testemunhara tamanha energia ao redor de um humilde caddie que, sem saber, quase por milagre, expressava os valores mais humanos do golfe.Nós, aqui do clube, o tínhamos como o amigo a quem deixar o filho pequeno enquanto íamos ao fairway. Se com isso não digo tudo, acrescento que no pequeno livro que escrevi sobre o esporte dei ao meu caddie fictício o seu nome, porque para mim o Birula representa todos os companheiros de bolsa que já tive.Escrevo esta nota póstuma a pedido da FRGG, sabendo que o meu sentimento é o de todos que o conheceram e agradeço o reconhecimento que a nossa entidade presta ao Birula que, para mim, foi o Caddie dos caddies. Nos deixou como legado a riqueza do seu exemplo. Não é pouco.Thomaz Albornoz Neves